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Archive for julho \25\+00:00 2010

Dezenove

julho 25, 2010 1 comentário

“Os tais 140 caracteres reflectem

algo que já conhecíamos:

a tendência para o monossílabo

como forma de comunicação.

De degrau em degrau,

vamos descendo até o grunhido.”

José Saramago

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Dezoito – “Little Miss Sunshine” [Filme]

julho 19, 2010 1 comentário

Olive (Abigail Breslin, adorável) é uma menina alegre e sonhadora. Vê  concursos de miss pela tevê e sonha em um dia ser uma daquelas mulheres maravilhosas. Filha  de Richard (Greg kinnear em seu melhor papel no cinema), um especialista em neurolinguistica quase falido que tenta vender um programa motivacional para vendedores e de Sheryl, típica mãe americana que valoriza a honestidade (Toni Collete, excelente) ela é o único ser ‘normal’ da família que ainda inclui o Vovô (Alan  Arkin,  premiado com o Oscar pelo papel) ex-veterano de guerra,  amalucado e viciado em cocaína ,do Tio Frank (Steve Carrell) um intelectual que acabou de tentar o suicídio após uma decepção amorosa e do irmão mais velho Dwayne (Paul Danno) um jovem que fez voto  de silêncio para entrar na Força-Aérea.

Um dia  Olive é  convidada a participar do concurso de beleza Little Miss Sunshie. A família decide sair ,numa kombi velha, dos subúrbios do Novo México até a Califórnia para que Olive realize seu grande sonho. Essa jornada dirigida por  Jonathan Dayton e Valerie  Ferris nos mostra uma família cujas pessoas foram  todas maltratadas pela vida  mas mesmo assim fazem  um último esforço para que Olive não  se torne como eles…  Tudo em tom de comédia dramática.

Um dos mais belos filmes nessa década, “Little Miss Sunshine”  nos revela um mundo atrás do american way of life. De pessoas que perderam amores, sonhos, propósitos mas que  de alguma forma esperam  que a estrada  que  leva do Novo México à Califórnia também lhe traga mais de si mesmos.

Momentos Memoráveis:  Olive desabafando que tem medo de ser derrotada no concurso e ser rejeitada pelo pai, o surto de Dwayne  que descobre ser daltônico, o pai  entrando no palco e dançando “Super Freak”, Olive falando onde estava o avô…

Tente não se emocionar e rir muito.

Elenco:

Abigail Breslin – Olive
Greg Kinnear – Richard
Toni Collette – Sheryl
Alan Arkin – Avô
Steve Carell – Frank
Paul Dano – Dwayne

Direção: Jonathan Dayton & Valerie Ferris.

Categorias:Short Cuts

Dezoito

Uns sapatos que ficam bem numa pessoa são pequenos para uma outra; não existe uma receita para a vida que sirva para todos.
Carl Jung

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Dezessete – Neil Gaiman

julho 15, 2010 2 comentários

“A peculiaridade da maioria das coisas que consideramos frágeis é o modo como elas são, na verdade, fortes. Havia truques que fazíamos com ovos, quando crianças, para demonstrar que eles são, apesar de não nos darmos conta disso, pequenos salões de mármore capazes de suportar grandes pressões, e muitos dizem que o bater de asas de uma borboleta no lugar certo pode criar um furacão do outro lado de um oceano. Corações podem ser partidos, mas o coração é o mais forte dos músculos, capaz de pulsar durante toda a vida, setenta vezes por minuto, e não falhar quase nunca. Até os sonhos, que são as coisas mais intangíveis e delicadas, podem se mostrar incrivelmente difíceis de matar. Histórias, assim como pessoas, borboletas, ovos de aves canoras, corações humanos e sonhos, também são coisas frágeis…”  – NEIL GAIMAN

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Dezesseis- Uma Canção de Você

Seis da tarde. Calor forte vindo de todos os lados. Rosto suado. Os pensamentos imersos em problemas do cotidiano. Grana, trabalho, projetos futuros. Estava preocupado e esqueci os fones não sei aonde, nem posso ouvir música para abstrair. A noite cai um pouco mais fresca que o dia escaldante de janeiro. E foi quando ouvi. Estava perto, ao meu lado para ser mais preciso. Um garoto de uns quinze anos ouvia música num celular e batia o pé no ritmo da canção. Estava alto o volume e podia ouvir baixinho uma melodia conhecida. Era “Shiny Happy People” do R.E.M..

Foi quando uma névoa de saudosismo veio como um fog londrino. Dezenove anos atrás numa noite como essa voltava da casa de um amigo, usava um walkman de fita cassete gigantesco. Tinha acabado de gravar essa música do LP (em vinil) que comprara nas Lojas Americanas.

Tinha sido um bom dia, teve bolo, refrigerante, amigos, vimos filmes no videocassete, ouvimos Ramones e The Cure na vitrola de meu amigo e fomos até a padaria comprar sorvetes. Nada demais. Logo em seguida minha irmã foi até lá me buscar e acabou levando “BrickByBrick” do IggyPop e lá descobrimos “Candy”.

Pode soar idiota mas por uns vinte segundos aquele rapaz ouvindo mp3 no celular me arremessou por quase duas décadas e num momento ingênuo quando tudo eram maravilhoso e envolto em descobertas e sabores novos.

Sua vida… é uma canção de você, ela é você.

Deixem as canções voltarem.

10/01/09, 01h43 AM

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XV

Quase dez da noite. Estava caminhando devagar e indo para o metrô. Desci as escadas da estação Luz. As rolantes estavam paradas e fui pela comum. Foi quando o vi. Sentado, segurando uma caixa de chicletes e chorando sem parar. Em geral não paro pois acho que dar esmolas é incentivar trabalho infantil.

Mas ele olhou para mim com o mais triste dos olhares. E não tentou vender nada, apenas chorava. “Que houve?”. “Se não vender chicletes eu apanho hoje.”

Tinha muito chiclete ainda. E para piorar começava a chover. Seguranças do metrô vieram, gritaram, mandaram levantar e sair. O mundo adulto imbecil como sempre. Uma mulher chegou perto também. Ele contou a história. Era orfão, morava com uma mulher que o ‘adotara’ para fazer pequenos furtos e vender doces. E se ele não trazia um mínimo de dinheiro o espancava.

Quinze reais. Era esse o valor da caixa. A mulher deu sete, dei sete e uma outra mulher que passou deu um real.

Sei que não ajuda.

Ele pegou, enxugou as lágrimas, pegou o dinheiro e caminhou sentido Parque da LUz… Foi desaparecendo na escuridão.

E eu reclamo de minha vida…

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14

“No fundo, é isso, a solidão: envolvermo-nos no casulo da nossa alma, fazermo-nos crisálida e aguardarmos a metamorfose, porque ela acaba sempre por chegar ”
[Stuart Strindberg]

Estamos presos à vida. Saramago escreveu em linhas perdidas em sua cruzada já cansada pelas respostas. Não queremos todos respostas?

Um céu azul, um oceano sem som, refletindo o mesmo céu do princípio da frase. Um avião passa após uma nuvem em forma de pêra.

Eu volto para minha janela, a queda vem como num tombo, tropeço meu olhar nas folhas de um carvalho, um bem velho que meu pai plantou em 87.

Terça-feira. Primavera, choveu a madrugada toda.

As toalhas são pretas. Minha mãe toma um café sentada, olhando para a parte dos fundos do quintal. Meu pai segura uma caneca de chá, encostado na coluna de concreto da casa antiga.

É um dia de silêncios, frio, vazio, com ventos gelados invadindo tudo, o quintal, a sala, ressaca o cabelo, toca os ombros. Esfria a ponta do nariz.

Emmy ficava perto daquela coluna. Sentava e encostava nela. Pegava um livro do Tio Patinhas, comia biscoitos de creme e lá ficava até a revista acabar. Isso foi há muito tempo, quando a neblina acordava a manhã antes do Sol. Ela se foi, no dia de hoje, anos atrás.

Em 1993 … Tudo parecia menos confuso.

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Thirteen

um poema curto/ breve

se  desfaz como o spray do oceano

desmancha como areia entre  os  dedos

Pequena /minúscula de luz

flutuando  por um oceano

sentindo ser mais um  fragmento  do tempo

eu perdi

você dormiu

tudo breve

[Andy]

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Doze

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Onze

José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade

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